quinta-feira, 30 de julho de 2009

Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


(Carlos Drummond de Andrade)

Por quê?

Por que nascemos para amar, se vamos morrer?

Por que morrer, se amamos?

Por que falta sentido

ao sentido de viver, amar, morrer?







(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 28 de julho de 2009

Figuras de linguagem

->Metáfora

Metáfora é a figura de palavra em que um termo substitui outro em vista de uma relação de semelhança entre os elementos que esses termos designam. Essa semelhança é resultado da imaginação, da subjetividade de quem cria a metáfora. A metáfora também pode ser entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo comparativo não está expresso, mas subentendido.

Ex: “O tempo é uma cadeira ao sol, e nada mais”(Carlos Drummond de Andrade)

O Sr. Vivaldo é esperto como uma raposa.
(comparação metafórica)

-->Metonímia

Metonímia é a figura de palavra que consiste na substituição de um termo por outro, em que a relação entre os elementos que esses termos designam não depende exclusivamente do indivíduo, mas da ligação objetiva que esses elementos mantêm na realidade.

Na metonímia, um termo substitui outro não porque a nossa sensibilidade estabeleça uma relação de semelhança entre os elementos que esses termos designam (caso da metáfora), mas porque esses elementos têm, de fato, uma relação de dependência. Dizemos que, na metonímia, há uma relação de contiguidade entre sentido de um termo e o sentido do termo que o substitui. Contigüidade significa “proximidade”, “vizinhança”.

Se à idéia de morte associamos a idéia de palidez ,é porque há urna relação de proximidade entre elas. O rosto do morto é pálido; portanto a morte causa palidez. A palidez é um efeito da morte. Não se trata de uma aproximação de termos de universos distantes, mas de termos vizinhos, contíguos. Lembre-se de que na metáfora a substituição de um termo por outro se dá por um processo interno, intuitivo, estritamente dependente do sujeito que realiza a substituição. Na metonímia, o processo é externo, pois a relação entre aquilo que os termos significam é verificável na realidade externa ao sujeito que estabelece tal relação.

Exemplos de metonímia
Sou alérgico a cigarro.
O cigarro é a causa, a fumaça é o efeito. Pode-se ser alérgico z fumaça, mas não ao cigarro.

Muitos pintores, embora famosos, não conseguem viver da pintura.
"Pintura", aqui, está sendo utilizada no lugar de "quadros", o produto da pintura; há uma relação de causa e efeito, portanto.

-->SINESTESIA

Sinestesia é outro tipo de metáfora. Consiste em aproximar, na mesma expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos dos sentidos. Como na metáfora, trata-se de relacionar elementos de universos diferentes.
Observe:

Uma melodia azul tomou conta dá sala.
Sensação auditiva e Visual

A sua voz áspera intimidava a platéia.
sensação auditiva tátil

Senti saudades amargas.
sentimento sensação gustativa

Esse perfume tem um cheiro doce.
sensação olfativa e gustativa

-->Paradoxo

Relacionado com a antítese, o paradoxo é uma figura de pensamento que consiste quando a conotação extrapola o senso comum, ou seja, a lógica. As expressões assim formuladas tornam-se proposições falsas, à luz do senso comum, mas que podem encerrar verdades do ponto de vista psicológico/poético.(Simplificando,é uma afirmação ou opinião que à primeira vista parece ser contraditória,mas na realidade expressa uma verdade possível). Em língua portuguesa, o paradoxo mais citado talvez seja o célebre soneto de Luís de Camões:
"Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer;
-->Antítese

Antítese é uma figura de linguagem (figuras de estilo) que consiste na exposição de idéias opostas. Ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. Esse recurso foi especialmente utilizado pelos autores do período Barroco. O contraste que se estabelece serve, essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos que não se conseguiria com a exposição isolada dos mesmos. É uma figura relacionada e muitas vezes confundida com o paradoxo. Várias antíteses podem ser feitas através de Amor e Ódio, Sol e Chuva, Paraíso e Inferno, Deus e Diabo.
A antítese é a figura mais utilizada no Barroco, estilo de época conhecido como arte do conflito, em que também há presença de paradoxos, por apresentar oposições nas idéias expressas.
-->Campo semântico

Conjunto de palavras unidas pelo sentido. Por exemplo, o campo semântico de mãe inclui: mãe-de-família, mãe-de-santo, mãe solteira, terra-mãe, mãe-de-água,… Deve-se evitar a confusão entre campo semântico e campo associativo ou conceptual, porque este não dá conta das relações linguísticas entre os termos considerados. O campo semântico é, pois, toda a área de significação de uma palavra ou de um grupo de palavras. Se quisermos descrever o campo semântico da palavra luva, por exemplo, incluiremos nele todas as possibilidades semânticas como: luvaria, luveiro, assentar como uma luva, atirar a luva, de luva branca, deitar a luva, macio como uma luva.

-->Hiponímia

É exatamente O OPOSTO DA HIPERONÍMIA : É A PALA-
VRA QUE INDICA CADA PARTE OU CADA ITEM DE UM
TODO.

Assim, as palavras bem-te-vi, curió, patativa, etc.,
constituem um caso de HIPONÍMIA, visto que CADA UMA
DESTAS PALAVRAS É PARTE DE UM TODO. (e, neste
caso, o todo a elas correspondente será a palavra
"AVES").

-->hiperonímia
É uma PALAVRA QUE DÁ IDÉIA DE UM TODO, do qual
se originam várias partes ou ramificações.

Exemplo : A palavra "RELIGIÃO" é um todo, ao qual es-
tão ligados todos os tipos de religião : cató-
lica, batista, protestante, etc.

O mesmo ocorre com a palavra 'CALÇADOS" : a ela es-
tão ligadas palavras como : sandálias, botas, sapatos,
tênis, etc, etc.

-->Ambigüidade

A duplicidade de sentido, seja de uma palavra ou de uma expressão, dá-se o nome de ambiguidade.

-->Polissemia

É a propriedade que uma mesma palavra tem de apresentar vários significados.
Ex.: Ele ocupa um alto posto na empresa.
Abasteci meu carro no posto da esquina.

Os convites eram de graça.
Os fiéis agradecem a graça recebida.
-->Intertextualidade

acontece quando há uma referência explícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc. Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextualidade.

Apresenta-se explicitamente quando o autor informa o objeto de sua citação. Num texto científico, por exemplo, o autor do texto citado é indicado, já na forma implícita, a indicação é oculta. Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo, um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diálogo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as mesmas idéias da obra citada ou contestando-as. Há duas formas: a Paráfrase e a Paródia.

domingo, 26 de julho de 2009

Documentário "Quem somos nós?"

Quem somos nós? Para onde vamos?. Este documentário nos ajuda a pensar as "realidades" criadas por cada um de nós, desde mitos sobre a criação do mundo até o aspecto mais simples do nosso cotidiano.

Assistam! Vale muito apena!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

Mário Quintana

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa

domingo, 19 de julho de 2009

CRIAÇÃO

Na velha questão sobre a origem da humanidade eu defendo o meio-termo. Um empate entre Darwin e Deus. Aceito a tese darwiniana de que o Homem descende do macaco mas acho que Deus criou a mulher. E nós somos a conseqüência daquele momento mágico em que o proto-homem, deslocando-se de galho em galho pela floresta primeva, chegou na planície de Éden e viu a mulher pela primeira vez.
Imagine a cena. O homem macaco de boca aberta, escondido pela folhagem, olhando aquela maravilha: uma mulher recém-feita. Como Vênus recém-pintada por Botticelli, com a tinta fresca. Eva espreguiçando-se à beira do Tigre. Ou era o Eufrates? Enfim, Eva no seu jardim, ainda úmida da criação. Eva esfregando os olhos. Eva examinando o próprio corpo. Eva retorcendo-se para olhar-se atrás e alisando as próprias ancas, satisfeita. Eva olhando-se no rio, ajeitando os longos cabelos, depois sorrindo para a própria imagem. Seus dentes perfeitos faiscando ao sol do Paraíso. E o quase homem babando no seu galho. E, com muito esforço, formulando um pensamento no seu cérebro primitivo. "Fêmea é isso, não aquela macaca que eu tenho em casa."
Há controvérsias a respeito, mas os teólogos acreditam que quando Eva foi criada por Deus tinha entre 19 e 23 anos. E ela reinou sozinha no Paraíso por duas luas. E, instruída por Deus, deu nome às coisas e aos bichos. E chamou o rio de rio e a grama de grama e a árvore de árvore e aquele estranho ser que desceu da árvore e ficou olhando para ela como um cachorro, de Homem. E quando o Homem sugeriu que coabitassem no Paraíso e começassem outra espécie, Eva riu-se, concordou só para ter o que fazer mas disse que ele ainda precisaria evoluir muito para chegar aos pés dela. E desde então temos tentado. Ninguém pode dizer que não temos tentado.
(Luíz Fernado Veríssimo)

Relato pessoal do livro "Capão pecado"

Ler o livro "Capão pecado" foi muito bom, embora não seja um livro daqueles escritos por americanos, que nos fazem viajar em histórias de cavaleiros e dragões, me faz viajar em uma história que nos faz refletir sobre nossos atos e nossas opiniões.

Com meu pai viajando e minha mãe fazendo tratamento em Porto Seguro, atualmente tenho residido na casa do meu avô, que por sua vez assisti muito jornal. Ele costuma assistir ao programa "Brasil urgente", apresentado por Datena e transmitido pela rede Bandeirantes de televisão. Meu avô adotou o dilema do programa que diz "Polícia na rua e bandido na cadeia". E com isso, passou a repetir frequentemente em suas reflexões seguidas de observações referentes a bandidos. Nesse período eu estava começando a ler o livro e durante esse processo de leitura e análise pude perceber o sentimento de repudio que o programa cria em nós, um sentimento de raiva com relação a bandidos que, normalmente aparecem no programa sendo negros e favelados de São Paulo. A leitura do livro me mostrou uma outra "realidade" que a mídia não nos mostra e certamente não lhe interessa.

Aprendi com o personagem Rael a pensar sobre o que nos cerca, ainda que pareça que está tudo bem ou que deve ser assim. Esses dias atrás, enquato assistia a um programa de TV, durante o "intervalo comercial" me deparei com uma propaganda da marca de calçados Havaianas. Ela mostrava um ator famoso da TV Globo - do qual não me lembro o nome- tocando um samba com os amigos e de repente aparece uma mulher com uma roupa meio social, meio despenteada, meio estressada repreendendo-os dizendo que enquanto o mundo passa por uma crise financeira eles estavam cantando e se alegrando, de repente o samba acaba e o ator da globo diz "tristeza" e de repente outro diz "por favor vai embora" e la vai o samba começar de novo. Isso me remeteu a uma frase que um amigo falava frequentemente: "Pra Brasileiro não tem tempo ruim não". Mas a quem isso enteressa? Quem disse que pra brasileiro não tem tempo ruim?.

Ora, morre mais gente no Brasil devido a violência do que na Guerra do Iraque, sem falar do estado de calamidade de nosso ensino público saúde e etc. E mais uma vez tive que concordar com Rael - Não da pra viver em um mundo onde atores interpretam coisas impossíveis.


Observações sobre o livro "Capão pecado"

--> 2ª Parte. + 1 AKIM.

A infuência da mídia na construção de uma nação. Aceitamos seus conceitos, julgamos errado o que eles determinam como errado, não temos opinião própria, estamos cegos.

--> Pg.50

Falta de opção de lazer. Burgos, Mixaria, China dentre outros, ao entrar na "mata" comentam a sensação de entrar em um clube sem ser escondido.

-->Pg.52

Matcherros é chamado para ver o cadaver de um morto. O homem havia cometido suicidio, Matcherros comenta que achava que era devido ao desemprego. Alaor diz "Se fosse assim, nóis tudo ja tinha se matado"

-->Rael, o personagem principal se mostra um personagem pensante. "Em meio ao caos a única forma de quebrar o sistem é pensando"

-->Pensando o nome de Burgos.

Ele odiava os playboys (burgueses). A palavra deriva do germânico burc, burg, pelo baixo latim burgu (fortaleza).


-->Pensando o nome de Narigaz
Ele mete muito o nariz na vida dos outros amigos, normalmente dando conselhos para eles estudarem.

-->Pg. 112
Trecho em que diz: "Não se pode viver num mundo de ilusões, onde atores interpretam coisas impossíveis. "