quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O riso - Vinícius de Moraes

Aquele riso foi o canto célebre
Da primeira estrela, em vão.
Milagre de primavera intacta
No sepulcro de neve
Rosa aberta ao vento, breve
Muito breve...

Não, aquele riso foi o canto célebre
Alta melodia imóvel
Gorjeio de fonte núbil
Apenas brotada, na treva...
Fonte de lábios (hora
Extremamente mágica do silêncio das aves).

Oh, música entre pétalas
Não afugentes meu amor!
Mistério maior é o sono
Se de súbito não se ouve o riso na noite.

Vinícius de Moraes

O riso

"Não há comicidade fora do que é propriamente humano. Uma paisagem poderá ser bela, graciosa, sublime, insignificante ou feia, porém, jamais risível. Riremos de um animal, mas porque teremos surpreendido nele uma atitude de homem ou certa expressão humana. Riremos de um chapéu, mas no caso o cômico não será um pedaço de feltro ou palha, senão a forma que alguém lhe deu, o molde da fantasia humana que ele assumiu. Como é possível que fato tão importante, em sua simplicidade, não tenha merecido atenção mais acurada dos filósofos? Já se definiu o homem como "um animal que ri". Poderia também ter sido definido com um animal que faz rir, pois se outro animal o conseguisse, ou algum objeto inanimado, seria por semelhança com o homem, pela característrica impressa pelo homem ou pelo uso que o homem dele faz."

Henri Bergson

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Documentário "Ilha das flores"

Ta aí pessoal, um link onde vocês poderão encontrar diversos curtas :

www.portacurtas.com.br

domingo, 6 de setembro de 2009

O pobre e o rico - Caju e Castanha

O rico é que come tudo, tudo o que quer ele come.

Mas é o pobre que trabalha, ganha pouco e passa fome.

domingo, 23 de agosto de 2009

Brasil, um país de poucos

5/05/09, enquanto navegava no site de informações, uma reportagem me chamou a atenção “Menino tenta furtar carro e é detido pela 11º vez”.O carro era de um sargento militar de 44 anos, que flagrou o menino com uma chave micha tentando abrir o carro. Logo após, li os comentários postados abaixo onde diziam “corta as duas mãos desse ladrão, esse não tem conserto não, de repente ele mata um pai ou uma mãe, deixa alguém órfão para o resto da vida.”, “leva esse moleque pra quebrar pedra por mês, logo ele entra na linha!”. Comentários como este me fez pensar: Quem é a vítima, o sargento ou a criança?
É comum pensarmos que o delegado é a vítima, até porque é isso que a mídia e suas reportagens reproduz em nossas cabeças. Mas se analisarmos o sistema político e capitalista no qual estamos integrados veremos o outro lado da moeda e perceberemos que somos todos vítimas de um sistema onde o valor esta no que temos e não no que somos.

Em uma sociedade onde os ricos tem prestígio e os pobres são desvalorizados o governo nos diz quando aparece na TV “Brasil um país de todos”. Porém, são todos que ao tentar arrumar um emprego e por ser marginalizado, negro e etc... o preconceito fecha as portas?, O que fazer quando nossos entes familiares morrem devido à super lotação dos hospitais sabendo que há outros disponíveis, porém temos que pagar (mais do que já pagamos em impostos) para ser atendido? Ou quando a mídia nos bombardeia dizendo: “ Compre, compre....”. “Seu cabelo esta feio, compre... você não esta na moda, compre...., você não é moderno, compre....” O que fazer quando em meio a estas e outras situações a ilusão de que quem entra no mundo da criminalidade progride, bate em nossas portas?
Não estou justificando o menino do ato que cometeu, mas sim, trazendo a mesma reflexão que o escritor Ferrez nos propõe em seu livro “Capão pecado” dizendo “Qual será o lado certo do monitor?” nos fazendo pensar sobre a influência que o conjunto mídia/sistema exerce sobre nós.
O homem capitalizou casas, automóveis, comidas, animais, terras, sentimentos, a vida e até mesmo a educação que por sua vez funciona como mais uma ferramenta para separar o rico do pobre.
Somos todos vítimas, a criança de 12 anos que tentou furtar o carro e que sofre a discriminação da sociedade e nós que somos iludidos pela mídia que nos faz não perceber o preconceito que também sofremos e que em uma ideologia de ego misturado com justiça nos faz desejar como punição para uma criança, a morte.
Josevi Freitas

YIN YANG

Basicamente, o símbolo yin yang representa a dependência que existe entre as coisas, como, por exemplo: só existe a luz porque existe escuridão, só existe o bem porque existe o mau. No conto “A igreja do diabo” esse símbolo relaciona-se com o aspecto da natureza humana sendo passível de uma reflexão sobre nossa busca por um “tipo ideal” formada pela sociedade ou até mesmo pela religião.
Observando que o bem e o mal é relativo e assume seus valores dependendo da coercitividade exercida pelos códigos morais de uma sociedade ou até mesmo de um indivíduo para outro. Nesse sentido, o bem e o mal é uma invenção humana.

domingo, 9 de agosto de 2009

Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.

Oswald de Andrade

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


(Carlos Drummond de Andrade)

Por quê?

Por que nascemos para amar, se vamos morrer?

Por que morrer, se amamos?

Por que falta sentido

ao sentido de viver, amar, morrer?







(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 28 de julho de 2009

Figuras de linguagem

->Metáfora

Metáfora é a figura de palavra em que um termo substitui outro em vista de uma relação de semelhança entre os elementos que esses termos designam. Essa semelhança é resultado da imaginação, da subjetividade de quem cria a metáfora. A metáfora também pode ser entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo comparativo não está expresso, mas subentendido.

Ex: “O tempo é uma cadeira ao sol, e nada mais”(Carlos Drummond de Andrade)

O Sr. Vivaldo é esperto como uma raposa.
(comparação metafórica)

-->Metonímia

Metonímia é a figura de palavra que consiste na substituição de um termo por outro, em que a relação entre os elementos que esses termos designam não depende exclusivamente do indivíduo, mas da ligação objetiva que esses elementos mantêm na realidade.

Na metonímia, um termo substitui outro não porque a nossa sensibilidade estabeleça uma relação de semelhança entre os elementos que esses termos designam (caso da metáfora), mas porque esses elementos têm, de fato, uma relação de dependência. Dizemos que, na metonímia, há uma relação de contiguidade entre sentido de um termo e o sentido do termo que o substitui. Contigüidade significa “proximidade”, “vizinhança”.

Se à idéia de morte associamos a idéia de palidez ,é porque há urna relação de proximidade entre elas. O rosto do morto é pálido; portanto a morte causa palidez. A palidez é um efeito da morte. Não se trata de uma aproximação de termos de universos distantes, mas de termos vizinhos, contíguos. Lembre-se de que na metáfora a substituição de um termo por outro se dá por um processo interno, intuitivo, estritamente dependente do sujeito que realiza a substituição. Na metonímia, o processo é externo, pois a relação entre aquilo que os termos significam é verificável na realidade externa ao sujeito que estabelece tal relação.

Exemplos de metonímia
Sou alérgico a cigarro.
O cigarro é a causa, a fumaça é o efeito. Pode-se ser alérgico z fumaça, mas não ao cigarro.

Muitos pintores, embora famosos, não conseguem viver da pintura.
"Pintura", aqui, está sendo utilizada no lugar de "quadros", o produto da pintura; há uma relação de causa e efeito, portanto.

-->SINESTESIA

Sinestesia é outro tipo de metáfora. Consiste em aproximar, na mesma expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos dos sentidos. Como na metáfora, trata-se de relacionar elementos de universos diferentes.
Observe:

Uma melodia azul tomou conta dá sala.
Sensação auditiva e Visual

A sua voz áspera intimidava a platéia.
sensação auditiva tátil

Senti saudades amargas.
sentimento sensação gustativa

Esse perfume tem um cheiro doce.
sensação olfativa e gustativa

-->Paradoxo

Relacionado com a antítese, o paradoxo é uma figura de pensamento que consiste quando a conotação extrapola o senso comum, ou seja, a lógica. As expressões assim formuladas tornam-se proposições falsas, à luz do senso comum, mas que podem encerrar verdades do ponto de vista psicológico/poético.(Simplificando,é uma afirmação ou opinião que à primeira vista parece ser contraditória,mas na realidade expressa uma verdade possível). Em língua portuguesa, o paradoxo mais citado talvez seja o célebre soneto de Luís de Camões:
"Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer;
-->Antítese

Antítese é uma figura de linguagem (figuras de estilo) que consiste na exposição de idéias opostas. Ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. Esse recurso foi especialmente utilizado pelos autores do período Barroco. O contraste que se estabelece serve, essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos que não se conseguiria com a exposição isolada dos mesmos. É uma figura relacionada e muitas vezes confundida com o paradoxo. Várias antíteses podem ser feitas através de Amor e Ódio, Sol e Chuva, Paraíso e Inferno, Deus e Diabo.
A antítese é a figura mais utilizada no Barroco, estilo de época conhecido como arte do conflito, em que também há presença de paradoxos, por apresentar oposições nas idéias expressas.
-->Campo semântico

Conjunto de palavras unidas pelo sentido. Por exemplo, o campo semântico de mãe inclui: mãe-de-família, mãe-de-santo, mãe solteira, terra-mãe, mãe-de-água,… Deve-se evitar a confusão entre campo semântico e campo associativo ou conceptual, porque este não dá conta das relações linguísticas entre os termos considerados. O campo semântico é, pois, toda a área de significação de uma palavra ou de um grupo de palavras. Se quisermos descrever o campo semântico da palavra luva, por exemplo, incluiremos nele todas as possibilidades semânticas como: luvaria, luveiro, assentar como uma luva, atirar a luva, de luva branca, deitar a luva, macio como uma luva.

-->Hiponímia

É exatamente O OPOSTO DA HIPERONÍMIA : É A PALA-
VRA QUE INDICA CADA PARTE OU CADA ITEM DE UM
TODO.

Assim, as palavras bem-te-vi, curió, patativa, etc.,
constituem um caso de HIPONÍMIA, visto que CADA UMA
DESTAS PALAVRAS É PARTE DE UM TODO. (e, neste
caso, o todo a elas correspondente será a palavra
"AVES").

-->hiperonímia
É uma PALAVRA QUE DÁ IDÉIA DE UM TODO, do qual
se originam várias partes ou ramificações.

Exemplo : A palavra "RELIGIÃO" é um todo, ao qual es-
tão ligados todos os tipos de religião : cató-
lica, batista, protestante, etc.

O mesmo ocorre com a palavra 'CALÇADOS" : a ela es-
tão ligadas palavras como : sandálias, botas, sapatos,
tênis, etc, etc.

-->Ambigüidade

A duplicidade de sentido, seja de uma palavra ou de uma expressão, dá-se o nome de ambiguidade.

-->Polissemia

É a propriedade que uma mesma palavra tem de apresentar vários significados.
Ex.: Ele ocupa um alto posto na empresa.
Abasteci meu carro no posto da esquina.

Os convites eram de graça.
Os fiéis agradecem a graça recebida.
-->Intertextualidade

acontece quando há uma referência explícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc. Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextualidade.

Apresenta-se explicitamente quando o autor informa o objeto de sua citação. Num texto científico, por exemplo, o autor do texto citado é indicado, já na forma implícita, a indicação é oculta. Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo, um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diálogo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as mesmas idéias da obra citada ou contestando-as. Há duas formas: a Paráfrase e a Paródia.

domingo, 26 de julho de 2009

Documentário "Quem somos nós?"

Quem somos nós? Para onde vamos?. Este documentário nos ajuda a pensar as "realidades" criadas por cada um de nós, desde mitos sobre a criação do mundo até o aspecto mais simples do nosso cotidiano.

Assistam! Vale muito apena!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

Mário Quintana

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa

domingo, 19 de julho de 2009

CRIAÇÃO

Na velha questão sobre a origem da humanidade eu defendo o meio-termo. Um empate entre Darwin e Deus. Aceito a tese darwiniana de que o Homem descende do macaco mas acho que Deus criou a mulher. E nós somos a conseqüência daquele momento mágico em que o proto-homem, deslocando-se de galho em galho pela floresta primeva, chegou na planície de Éden e viu a mulher pela primeira vez.
Imagine a cena. O homem macaco de boca aberta, escondido pela folhagem, olhando aquela maravilha: uma mulher recém-feita. Como Vênus recém-pintada por Botticelli, com a tinta fresca. Eva espreguiçando-se à beira do Tigre. Ou era o Eufrates? Enfim, Eva no seu jardim, ainda úmida da criação. Eva esfregando os olhos. Eva examinando o próprio corpo. Eva retorcendo-se para olhar-se atrás e alisando as próprias ancas, satisfeita. Eva olhando-se no rio, ajeitando os longos cabelos, depois sorrindo para a própria imagem. Seus dentes perfeitos faiscando ao sol do Paraíso. E o quase homem babando no seu galho. E, com muito esforço, formulando um pensamento no seu cérebro primitivo. "Fêmea é isso, não aquela macaca que eu tenho em casa."
Há controvérsias a respeito, mas os teólogos acreditam que quando Eva foi criada por Deus tinha entre 19 e 23 anos. E ela reinou sozinha no Paraíso por duas luas. E, instruída por Deus, deu nome às coisas e aos bichos. E chamou o rio de rio e a grama de grama e a árvore de árvore e aquele estranho ser que desceu da árvore e ficou olhando para ela como um cachorro, de Homem. E quando o Homem sugeriu que coabitassem no Paraíso e começassem outra espécie, Eva riu-se, concordou só para ter o que fazer mas disse que ele ainda precisaria evoluir muito para chegar aos pés dela. E desde então temos tentado. Ninguém pode dizer que não temos tentado.
(Luíz Fernado Veríssimo)

Relato pessoal do livro "Capão pecado"

Ler o livro "Capão pecado" foi muito bom, embora não seja um livro daqueles escritos por americanos, que nos fazem viajar em histórias de cavaleiros e dragões, me faz viajar em uma história que nos faz refletir sobre nossos atos e nossas opiniões.

Com meu pai viajando e minha mãe fazendo tratamento em Porto Seguro, atualmente tenho residido na casa do meu avô, que por sua vez assisti muito jornal. Ele costuma assistir ao programa "Brasil urgente", apresentado por Datena e transmitido pela rede Bandeirantes de televisão. Meu avô adotou o dilema do programa que diz "Polícia na rua e bandido na cadeia". E com isso, passou a repetir frequentemente em suas reflexões seguidas de observações referentes a bandidos. Nesse período eu estava começando a ler o livro e durante esse processo de leitura e análise pude perceber o sentimento de repudio que o programa cria em nós, um sentimento de raiva com relação a bandidos que, normalmente aparecem no programa sendo negros e favelados de São Paulo. A leitura do livro me mostrou uma outra "realidade" que a mídia não nos mostra e certamente não lhe interessa.

Aprendi com o personagem Rael a pensar sobre o que nos cerca, ainda que pareça que está tudo bem ou que deve ser assim. Esses dias atrás, enquato assistia a um programa de TV, durante o "intervalo comercial" me deparei com uma propaganda da marca de calçados Havaianas. Ela mostrava um ator famoso da TV Globo - do qual não me lembro o nome- tocando um samba com os amigos e de repente aparece uma mulher com uma roupa meio social, meio despenteada, meio estressada repreendendo-os dizendo que enquanto o mundo passa por uma crise financeira eles estavam cantando e se alegrando, de repente o samba acaba e o ator da globo diz "tristeza" e de repente outro diz "por favor vai embora" e la vai o samba começar de novo. Isso me remeteu a uma frase que um amigo falava frequentemente: "Pra Brasileiro não tem tempo ruim não". Mas a quem isso enteressa? Quem disse que pra brasileiro não tem tempo ruim?.

Ora, morre mais gente no Brasil devido a violência do que na Guerra do Iraque, sem falar do estado de calamidade de nosso ensino público saúde e etc. E mais uma vez tive que concordar com Rael - Não da pra viver em um mundo onde atores interpretam coisas impossíveis.


Observações sobre o livro "Capão pecado"

--> 2ª Parte. + 1 AKIM.

A infuência da mídia na construção de uma nação. Aceitamos seus conceitos, julgamos errado o que eles determinam como errado, não temos opinião própria, estamos cegos.

--> Pg.50

Falta de opção de lazer. Burgos, Mixaria, China dentre outros, ao entrar na "mata" comentam a sensação de entrar em um clube sem ser escondido.

-->Pg.52

Matcherros é chamado para ver o cadaver de um morto. O homem havia cometido suicidio, Matcherros comenta que achava que era devido ao desemprego. Alaor diz "Se fosse assim, nóis tudo ja tinha se matado"

-->Rael, o personagem principal se mostra um personagem pensante. "Em meio ao caos a única forma de quebrar o sistem é pensando"

-->Pensando o nome de Burgos.

Ele odiava os playboys (burgueses). A palavra deriva do germânico burc, burg, pelo baixo latim burgu (fortaleza).


-->Pensando o nome de Narigaz
Ele mete muito o nariz na vida dos outros amigos, normalmente dando conselhos para eles estudarem.

-->Pg. 112
Trecho em que diz: "Não se pode viver num mundo de ilusões, onde atores interpretam coisas impossíveis. "

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Falando de poesia

Poesia é sonho mágico
em palavras realizado.
Passando pelo trágico,
até o mundo encantado.

II -
A poesia é uma ponte
que enternece os corações.
Ainda que desaponte
quando põe fim às ilusões.

III -
A poesia é quase tudo.
O vento que afaga o rosto,
em versos que sobretudo,
afastam muito o desgosto.

IV -
A convidada poesia
bateu na minha porta.
Abri com muita alegria,
ser feliz é o que importa.

***
Guida Linhares

Poemas concretistas







O rei dos animais

Saiu o leão a fazer sua pesquisa estatística, para verificar se ainda era o Rei das Selvas. Os tempos tinham mudado muito, as condições do progresso alterado a psicologia e os métodos de combate das feras, as relações de respeito entre os animais já não eram as mesmas, de modo que seria bom indagar. Não que restasse ao Leão qualquer dúvida quanto à sua realeza. Mas assegurar-se é uma das constantes do espírito humano, e, por extensão, do espírito animal. Ouvir da boca dos outros a consagração do nosso valor, saber o sabido, quando ele nos é favorável, eis um prazer dos deuses. Assim o Leão encontrou o Macaco e perguntou: "Hei, você aí, macaco - quem é o rei dos animais?" O Macaco, surpreendido pelo rugir indagatório, deu um salto de pavor e, quando respondeu, já estava no mais alto galho da mais alta árvore da floresta: "Claro que é você, Leão, claro que é você!". Satisfeito, o Leão continuou pela floresta e perguntou ao papagaio: "Currupaco, papagaio. Quem é, segundo seu conceito, o Senhor da Floresta, não é o Leão?" E como aos papagaios não é dado o dom de improvisar, mas apenas o de repetir, lá repetiu o papagaio: "Currupaco... não é o Leão? Não é o Leão? Currupaco, não é o Leão?". Cheio de si, prosseguiu o Leão pela floresta em busca de novas afirmações de sua personalidade. Encontrou a coruja e perguntou: "Coruja, não sou eu o maioral da mata?" "Sim, és tu", disse a coruja. Mas disse de sábia, não de crente. E lá se foi o Leão, mais firme no passo, mais alto de cabeça. Encontrou o tigre. "Tigre, - disse em voz de estentor -eu sou o rei da floresta. Certo?" O tigre rugiu, hesitou, tentou não responder, mas sentiu o barulho do olhar do Leão fixo em si, e disse, rugindo contrafeito: "Sim". E rugiu ainda mais mal humorado e já arrependido, quando o leão se afastou. Três quilômetros adiante, numa grande clareira, o Leão encontrou o elefante. Perguntou: "Elefante, quem manda na floresta, quem é Rei, Imperador, Presidente da República, dono e senhor de árvores e de seres, dentro da mata?" O elefante pegou-o pela tromba, deu três voltas com ele pelo ar, atirou-o contra o tronco de uma árvore e desapareceu floresta adentro. O Leão caiu no chão, tonto e ensangüentado, levantou-se lambendo uma das patas, e murmurou: "Que diabo, só porque não sabia a resposta não era preciso ficar tão zangado".M O R A L: CADA UM TIRA DOS ACONTECIMENTOS A CONCLUSÃO QUE BEM ENTENDE.
Millôr Fernandes

Gramática descritiva

A gramática descritiva é uma gramática que se propõe a descrever as regras de como uma língua é realmente falada, a despeito do que a gramática normativa prescreve como "correto". É a gramática que norteia o trabalho dos lingüistas que pretendem descrever a língua tal como é falada.
As gramáticas descritivas estão ligadas a uma determinada
comunidade lingüística e reúnem as formas gramaticais aceitas por estas comunidades. Como a língua sofre mudanças, muito do que é prescrito na gramática normativa já não é mais usado pelos falantes de uma língua. A gramática descritiva não tem o objetivo de apontar erros, mas sim identificar todas as formas de expressão existentes e verificar quando e por quem são produzidas.

Gramática normativa

Chama-se gramática normativa a gramática que busca ditar, ou prescrever, as regras gramaticais de uma língua, posicionando as suas prescrições como a única forma correta de realização da língua, categorizando as outras formas possíveis como erradas.
Frequentemente as gramáticas normativas se baseiam nos
dialetos de prestígio de uma comunidade lingüística.
Embora as gramáticas normativas sejam comuns no ensino formal de uma língua, a
sociolingüística vem favorecendo o estudo da língua como ela realmente é falada, e não como ela deveria ser falada.
A gramática é dividida em: fonologia, morfologia e sintaxe.
Fonologia: fonemas, letras, pontos de articulação
ortoépia (ortoepia) – estuda a correta pronuncia dos vocábulos
prosódia – determinação da sílaba tônica
ortografia – representa a escrita da língua
Morfologia: (forma) – estuda a composição dos vocábulos, estudo das classes de palavras e gramaticais.
Sintaxe: relação entre as palavras de uma oração ou relação entre as orações de um período.
de
concordância – verbal (sujeito e verbo) e nominal (substantivo em relação ao artigo, adjetivo, numeral, etc.)
de
regência – verbal (verbo pedindo preposição ou não) e nominal (nome acompanhado de preposição)
de
colocação – trata da colocação de certas palavras.
pronominal: próclise, mesóclise, enclise.

Calvin_ Ambiente


terça-feira, 16 de junho de 2009

Poesia Concreta

Em 1956, a Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada na cidade de São Paulo, lançou oficialmente o mais controverso movimento de poesia vanguardista brasileira: o concretismo*.
Criada por Décio Pignatari (1927), Haroldo de Campos (1929) e Augusto de Campos (1931), a poesia concreta era um ataque à produção poética da época, dominada pela geração de 1945, a quem os jovens paulistas acusavam de verbalismo, subjetivismo, falta de apuro e incapacidade de expressar a nova realidade gerada pela revolução industrial.São Paulo vivia então o apogeu do desenvolvimentismo da Era J.K. e seus intelectuais buscavam uma poética ideológica/artística cosmopolita, como tinham feito os modernistas de 1922. Por isso, um dos modelos adotados pelos concretos foi Oswald de Andrade cuja lírica sintética (“poemas-pílula”) representava para eles o vanguardismo mais radical.
* Desde 1952, os jovens intelectuais paulistas vinham procurando um novo caminho através de uma revista chamada Noigandres, palavra tirada de um poema de Erza Pound e que não significa nada.
"Todo o poema é uma aventura planificada"
Em síntese, os criadores do concretismo propugnavam um experimentalismo poético (planificado e racionalizado) que obedecia aos seguintes princípios:
- Abolição do verso tradicional, sobretudo através da eliminação dos laços sintáticos (preposições, conjunções, pronomes, etc.), gerando uma poesia objetiva, concreta, feita quase tão somente de substantivos e verbos;
- Um linguagem necessariamente sintética, dinâmica, homóloga à sociedade industrial (“A importância do olho na comunicação mais rápida... os anúncios luminosos, as histórias em quadrinhos, a necessidade do movimento....”);
- Utilização de paronomásias, neologismos, estrangeirismos; separação de prefixos e sufixos; repetição de certos morfemas; valorização da palavra solta (som, forma visual, carga semântica) que se fragmenta e recompõe na página;
- O poema transforma-se em objeto visual, valendo-se do espaço gráfico como agente estrutural: uso dos espaços brancos, de recursos tipográficos, etc.; em função disso o poema deverá ser simultaneamente lido e visto.

Nascimento, Abdias do (1914)

Abdias do Nascimento (Franca SP 1914). Ator, diretor e dramaturgo. Militante da luta contra a discriminação racial e pela valorização da cultura negra. É responsável pela criação do Teatro Experimental do Negro, que atua no Rio de Janeiro entre 1944 e 1968 e é a primeira companhia a promover a inclusão do artista afro-descendente no panorama teatral brasileiro.
Sua militância política se inicia na década de 1930, quando integra a Frente Negra Brasileira, em São Paulo. Participa, anos depois, da organização do 1º Congresso Afro-Campineiro, com o objetivo de discutir formas de resistência à discriminação racial. No início da década de 1940, em viagem ao Peru, assiste ao espetáculo O Imperador Jones, de Eugene O'Neill, no qual o personagem central é interpretado por um ator branco tingido de negro. Refletindo a partir dessa situação, comum no teatro brasileiro de então, propõe-se a criar um teatro que valorize os artistas negros.
Permanece em Buenos Aires por um ano, estudando junto ao Teatro Del Pueblo. Em 1941, quando volta ao Brasil, é preso por um crime de resistência, anterior à sua viagem. Detido na penitenciária do Carandiru, funda o Teatro do Sentenciado, organizando um grupo de presos que escrevem e encenam seus próprios textos.
Em 1944, no Rio de Janeiro, com o apoio de uma série de artistas e intelectuais brasileiros, inaugura o Teatro Experimental do Negro - TEN, com a proposta de trabalhar pela valorização social do negro através da cultura e da arte. No primeiro ano de funcionamento, o TEN promove um curso de interpretação teatral, ministrado por Abdias, além de aulas de alfabetização e oficinas de iniciação à cultura geral, objetivando a formação de artistas e colaboradores. Em 1945, Abdias dirige o espetáculo de estréia do grupo: O Imperador Jones, de Eugene O'Neill. No ano seguinte, participa como ator de duas outras montagens de O'Neill produzidas pelo grupo: Todos os Filhos de Deus Têm Asas e O Moleque Sonhador. Ainda em 1946, comemorando dois anos de fundação do TEN, protagoniza trecho do espetáculo Othello, de William Shakespeare, com a atriz
Cacilda Becker.
Em seguida, o grupo passa a encenar uma série de novas peças da dramaturgia brasileira, focalizando questões de relevância para a cultura negra. Em 1947, Abdias dirige e atua na primeira peça escrita especialmente para o TEN: O Filho Pródigo, de Lúcio Cardoso, que aborda a questão do negro na forma de uma parábola. No ano seguinte, dirige e atua em Aruanda, de Joaquim Ribeiro, colocando pela primeira vez no centro da representação elementos da religiosidade afro-brasileira. Em 1949, monta Filhos de Santo, de José de Morais Pinho.
Em 1952, encena uma peça de autoria própria: Rapsódia Negra, na qual se apropria da tradição do teatro de revista. Em 1957, participa como ator da montagem de seu segundo texto dramatúrgico,
Sortilégio, fábula moral que fala do preconceito de raça, partindo de uma situação vivida pelo protagonista, a direção é de Léo Jusi. Anos mais tarde, Abdias escreve uma segunda versão dessa peça, a partir de uma estadia de um ano na Nigéria, mesclando a ela aspectos da cultura africana.
Entre 1948 e 1951, Abdias dirige o jornal Quilombo, órgão de divulgação do grupo, que publica também notícias de outras entidades do movimento negro. Em 1949, realiza a Conferência Nacional do Negro, e, em 1950, o 1º Congresso do Negro Brasileiro. Em 1961, publica o livro Dramas para Negros e Prólogos para Brancos, compêndio com peças nacionais que tratam da cultura negra, entre elas as montadas pelo TEN.
Em 1968, devido à perseguição política, Abdias abandona o país, num exílio que dura até 1981. Com a dissolução do Teatro Experimental do Negro, Abdias deixa de atuar e dirigir para o teatro, e sua militância ganha novas formas. Fora do Brasil, atua como conferencista e professor universitário. Publica uma série de livros denunciando a discriminação racial. Dedica-se à pintura, pesquisando visualidades relacionadas à cultura religiosa afro-brasileira. De volta ao país, investe na carreira política. Assume cargos de Deputado Federal e Senador da República pelo PDT, sempre reivindicando um lugar para a cultura negra na sociedade.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Sou negro

Ninguém é branco.
Ninguém é negro.
A cor da pele é apenas um variação de tom.
Mas se alguns dizem ser branco sem problemas,
Eu sou negro.
Não quero qualquer outro nome.
Não aceito a vergonha que me colocam
Pela magnitude do meu pigmento.

Por ser negro excluem que possa ser alemão, chinês ou francês?
Não posso ser?
Mas se nasci em Londres, sou inglês.

Fui colocado em oposição ao branco.
O branco puro e casto
O negro lúgubre e mofino
O meu corpo é negro.

Posso escrever o que vai por dentro
Para ser esquecido em qualquer sítio e sobretudo.
Que me importaria isso?
Pelo contrário.
Não sei para que escrevo nem para quem.
Não estou para ser visto, medido e avaliado.
Quero lá saber de tudo isso.

Não és poesia.
Não és amor.
Não és paixão.
Não és humano.
Não podes ser.
Não vais conseguir nada.
És culpado.

Não és nada.
Não fizeste nada.
Não construíste nada.
Não inventaste nada.

E a minha cultura que foi destruída?
Fui esquecido, fui dominado
E a minha voz que foi silenciada?
Ainda não a consegui encontrar de novo.
E a minha arte que foi roubada?
Já não volta a ser minha.
E as minhas raízes que foram usurpadas?
Não sei quem sou.
Talvez venha dali.Talvez.

O branco inventou a palavra negro, a palavra escravo
No nosso coração gerou ódio, gerou cobiça, gerou inveja
Estragou o nosso paraíso por o querer comprar
E os miúdos pedem nas ruas dinheiro para uma coca-cola
E as cidades são dormitórios ao alto sem água nem luz
A nossa escola não tem porta, nem cadeiras, nem giz
Mas o branco quer vender canetas marcadoras
Em cada poste dependurou-se um homem branco e negro
Abriram-se crianças negras e brancas em espetos de pau
Alvejaram-se brancos e negros que procuravam fugir
Lado a lado como irmãos.

Já não se pode falar de racismo.
Isso não existe.
Ninguém é racista.
Ninguém.
Mas eu sou negro.
O meu corpo é negro.
Sou sim.
Porque branco não posso ser.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Incelença pro amor retirante
(Elomar)

Vem amiga visitar
A terra, o lugar
Que você abandonou
Inda ouço murmurar
Nunca vou te deixar
Por Deus nosso Senhor
Pena cumpanheira agora
Que você foi embora
A vida fulorô
Ouço em toda noite escura
Como eu a sua procura
Um grilo a cantar
Lá no fundo do terreiro
Um grilo violeiro
Inhambado a procurar
Mas já pela madrugada
Ouço o canto da amada
Do grilo cantador
Geme os rebanhos na aurora
Mugindo cadê a senhora
Que nunca mais voltou
Ao senhô peço clemência
Num canto de incelença
Pro amor que retirou.
Faz um ano in janeiro
Que aqui pousou um tropeiro
O cujo prometeu
De na derradeira lua
Trazer notícia sua
Se vive ou se morreu
Derna aquela madrugada
Tenho os olhos na istrada
E a tropa não voltou

Análise:

No texto o eu lírico expõe o sofrimento que a ausência da amiga lhe causa. É possível identificar que se trata de um ambiente rural no trecho em que diz “Geme os rebanhos na aurora” se contrastando com o ambiente cortesão das cantigas de amor. Nesse sentido, o texto apresenta características das cantigas de amigo do período literário trovadorismo.
Sozinho
Caetano Veloso
Composição: Peninha

Às vezes, no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado, juntando
O antes, o agora e o depois
Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho!

Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes cai bem
Eu tenho meus desejos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém
Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha?

Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?

Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?

Análise:

O eu lírico também esta na voz de um homem e se queixa da indiferença da amada. Características das cantigas de amor do período literário trovadorismo
Queixa
Caetano Veloso
Composição: N.Siqueira / E. Neves

Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza

Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa

Um amor assim violento
Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água

Ondas, desejos de vingança
Nessa desnatureza
Batem forte sem esperança
Contra a tua dureza

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa

Um amor assim delicado
Nenhum homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria

Você pensa que eu tenho tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Amiga, me diga...

Análise:

Neste texto é possível identificar algumas características que estão relacionadas com as cantigas de amor do período literário trovadorismo, o eu lírico esta na voz de um homem que se queixa da indiferença da amada.
O Trovador
Altemar Dutra
Composição: (Jair Amorin / Evaldo Gouveia)

Sonhei que eu era um dia um trovador
Dos velhos tempos que não voltam mais
Cantava assim a toda hora
As mais lindas modinhas

De meu rio de outrora
Sinhá mocinha de olhar fugaz
Se encantava com meus versos de rapaz

Qual seresteiro ou menestrel do amor
A suspirar sob os balcões em flor
Na noite antiga do meu Rio
Pelas ruas do Rio
Eu passava a cantar novas trovas

Em provas de amor ao luar
E via então de um lampião de gás
Na janela a flor mais bela em tristes ais

sexta-feira, 3 de abril de 2009

3° do plural

(Engenheiros do Havai)


Corrida pra vender cigarro
Cigarro pra vender remédio
Remédio pra curar a tosse
Tossir, cuspir, jogar pra fora
Corrida pra vender os carros
Pneu, cerveja e gasolina
Cabeça pra usar boné
E professar a fé de quem patrocina

Eles querem te vender, eles querem te comprar
Querem te matar (de rir), querem te fazer chorar
Quem são eles?
Quem eles pensam que são?

Corrida contra o relógio
Silicone contra a gravidade
Dedo no gatilho, velocidade
Quem mente antes diz a verdade
Satisfação garantida
Obsolescência programada
Eles ganham a corrida antes mesmo da largada

Eles querem te vender, eles querem te comprar
Querem te matar (a sede), eles querer te sedar
Quem são eles?
Quem eles pensam que são?

Vender, comprar, vendar os olhos
Jogar a rede... contra a parede
Querem te deixar com sede
Não querem te deixar pensar
Quem são eles?
Quem eles pensam que são?

Língua

(Caetano Veloso)

Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua”
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E – xeque-mate – explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(– Será que ele está no Pão de Açúcar?
– Tá craude brô
– Você e tu
– Lhe amo
– Qué queu te faço, nego?
– Bote ligeiro!
– Ma’de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
– Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
– I like to spend some time in Mozambique
– Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem.

Brasis

(Seu Jorge)

Tem um Brasil que é próspero
Outro não muda
Um Brasil que investe
Outro que suga...

Um de sunga
Outro de gravata
Tem um que faz amor
E tem o outro que mata
Brasil do ouro
Brasil da prata
Brasil do balacochê
Da mulata...

Tem um Brasil que é lindo
Outro que fede
O Brasil que dá
É igualzinho ao que pede...

Pede paz, saúde
Trabalho e dinheiro
Pede pelas crianças
Do país inteiro
Lararará!...

Tem um Brasil que soca
Outro que apanha
Um Brasil que saca
Outro que chuta
Perde, ganha
Sobe, desce
Vai à luta bate bola
Porém não vai à escola...

Brasil de cobre
Brasil de lata
É negro, é branco, é nissei
É verde, é índio peladão
É mameluco, é cafuso
É confusão
É negro, é branco, é nissei
É verde, é índio peladão
É mameluco, é cafuso
É confusão...

Oh pindorama eu quero
Seu porto seguro
Suas palmeiras
Suas feiras, seu café
Suas riquezas
Praias, cachoeiras
Quero ver o seu povo
De cabeça em pé...

Quero ver o seu povo
De cabeça em pé...