quarta-feira, 24 de junho de 2009

Falando de poesia

Poesia é sonho mágico
em palavras realizado.
Passando pelo trágico,
até o mundo encantado.

II -
A poesia é uma ponte
que enternece os corações.
Ainda que desaponte
quando põe fim às ilusões.

III -
A poesia é quase tudo.
O vento que afaga o rosto,
em versos que sobretudo,
afastam muito o desgosto.

IV -
A convidada poesia
bateu na minha porta.
Abri com muita alegria,
ser feliz é o que importa.

***
Guida Linhares

Poemas concretistas







O rei dos animais

Saiu o leão a fazer sua pesquisa estatística, para verificar se ainda era o Rei das Selvas. Os tempos tinham mudado muito, as condições do progresso alterado a psicologia e os métodos de combate das feras, as relações de respeito entre os animais já não eram as mesmas, de modo que seria bom indagar. Não que restasse ao Leão qualquer dúvida quanto à sua realeza. Mas assegurar-se é uma das constantes do espírito humano, e, por extensão, do espírito animal. Ouvir da boca dos outros a consagração do nosso valor, saber o sabido, quando ele nos é favorável, eis um prazer dos deuses. Assim o Leão encontrou o Macaco e perguntou: "Hei, você aí, macaco - quem é o rei dos animais?" O Macaco, surpreendido pelo rugir indagatório, deu um salto de pavor e, quando respondeu, já estava no mais alto galho da mais alta árvore da floresta: "Claro que é você, Leão, claro que é você!". Satisfeito, o Leão continuou pela floresta e perguntou ao papagaio: "Currupaco, papagaio. Quem é, segundo seu conceito, o Senhor da Floresta, não é o Leão?" E como aos papagaios não é dado o dom de improvisar, mas apenas o de repetir, lá repetiu o papagaio: "Currupaco... não é o Leão? Não é o Leão? Currupaco, não é o Leão?". Cheio de si, prosseguiu o Leão pela floresta em busca de novas afirmações de sua personalidade. Encontrou a coruja e perguntou: "Coruja, não sou eu o maioral da mata?" "Sim, és tu", disse a coruja. Mas disse de sábia, não de crente. E lá se foi o Leão, mais firme no passo, mais alto de cabeça. Encontrou o tigre. "Tigre, - disse em voz de estentor -eu sou o rei da floresta. Certo?" O tigre rugiu, hesitou, tentou não responder, mas sentiu o barulho do olhar do Leão fixo em si, e disse, rugindo contrafeito: "Sim". E rugiu ainda mais mal humorado e já arrependido, quando o leão se afastou. Três quilômetros adiante, numa grande clareira, o Leão encontrou o elefante. Perguntou: "Elefante, quem manda na floresta, quem é Rei, Imperador, Presidente da República, dono e senhor de árvores e de seres, dentro da mata?" O elefante pegou-o pela tromba, deu três voltas com ele pelo ar, atirou-o contra o tronco de uma árvore e desapareceu floresta adentro. O Leão caiu no chão, tonto e ensangüentado, levantou-se lambendo uma das patas, e murmurou: "Que diabo, só porque não sabia a resposta não era preciso ficar tão zangado".M O R A L: CADA UM TIRA DOS ACONTECIMENTOS A CONCLUSÃO QUE BEM ENTENDE.
Millôr Fernandes

Gramática descritiva

A gramática descritiva é uma gramática que se propõe a descrever as regras de como uma língua é realmente falada, a despeito do que a gramática normativa prescreve como "correto". É a gramática que norteia o trabalho dos lingüistas que pretendem descrever a língua tal como é falada.
As gramáticas descritivas estão ligadas a uma determinada
comunidade lingüística e reúnem as formas gramaticais aceitas por estas comunidades. Como a língua sofre mudanças, muito do que é prescrito na gramática normativa já não é mais usado pelos falantes de uma língua. A gramática descritiva não tem o objetivo de apontar erros, mas sim identificar todas as formas de expressão existentes e verificar quando e por quem são produzidas.

Gramática normativa

Chama-se gramática normativa a gramática que busca ditar, ou prescrever, as regras gramaticais de uma língua, posicionando as suas prescrições como a única forma correta de realização da língua, categorizando as outras formas possíveis como erradas.
Frequentemente as gramáticas normativas se baseiam nos
dialetos de prestígio de uma comunidade lingüística.
Embora as gramáticas normativas sejam comuns no ensino formal de uma língua, a
sociolingüística vem favorecendo o estudo da língua como ela realmente é falada, e não como ela deveria ser falada.
A gramática é dividida em: fonologia, morfologia e sintaxe.
Fonologia: fonemas, letras, pontos de articulação
ortoépia (ortoepia) – estuda a correta pronuncia dos vocábulos
prosódia – determinação da sílaba tônica
ortografia – representa a escrita da língua
Morfologia: (forma) – estuda a composição dos vocábulos, estudo das classes de palavras e gramaticais.
Sintaxe: relação entre as palavras de uma oração ou relação entre as orações de um período.
de
concordância – verbal (sujeito e verbo) e nominal (substantivo em relação ao artigo, adjetivo, numeral, etc.)
de
regência – verbal (verbo pedindo preposição ou não) e nominal (nome acompanhado de preposição)
de
colocação – trata da colocação de certas palavras.
pronominal: próclise, mesóclise, enclise.

Calvin_ Ambiente


terça-feira, 16 de junho de 2009

Poesia Concreta

Em 1956, a Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada na cidade de São Paulo, lançou oficialmente o mais controverso movimento de poesia vanguardista brasileira: o concretismo*.
Criada por Décio Pignatari (1927), Haroldo de Campos (1929) e Augusto de Campos (1931), a poesia concreta era um ataque à produção poética da época, dominada pela geração de 1945, a quem os jovens paulistas acusavam de verbalismo, subjetivismo, falta de apuro e incapacidade de expressar a nova realidade gerada pela revolução industrial.São Paulo vivia então o apogeu do desenvolvimentismo da Era J.K. e seus intelectuais buscavam uma poética ideológica/artística cosmopolita, como tinham feito os modernistas de 1922. Por isso, um dos modelos adotados pelos concretos foi Oswald de Andrade cuja lírica sintética (“poemas-pílula”) representava para eles o vanguardismo mais radical.
* Desde 1952, os jovens intelectuais paulistas vinham procurando um novo caminho através de uma revista chamada Noigandres, palavra tirada de um poema de Erza Pound e que não significa nada.
"Todo o poema é uma aventura planificada"
Em síntese, os criadores do concretismo propugnavam um experimentalismo poético (planificado e racionalizado) que obedecia aos seguintes princípios:
- Abolição do verso tradicional, sobretudo através da eliminação dos laços sintáticos (preposições, conjunções, pronomes, etc.), gerando uma poesia objetiva, concreta, feita quase tão somente de substantivos e verbos;
- Um linguagem necessariamente sintética, dinâmica, homóloga à sociedade industrial (“A importância do olho na comunicação mais rápida... os anúncios luminosos, as histórias em quadrinhos, a necessidade do movimento....”);
- Utilização de paronomásias, neologismos, estrangeirismos; separação de prefixos e sufixos; repetição de certos morfemas; valorização da palavra solta (som, forma visual, carga semântica) que se fragmenta e recompõe na página;
- O poema transforma-se em objeto visual, valendo-se do espaço gráfico como agente estrutural: uso dos espaços brancos, de recursos tipográficos, etc.; em função disso o poema deverá ser simultaneamente lido e visto.

Nascimento, Abdias do (1914)

Abdias do Nascimento (Franca SP 1914). Ator, diretor e dramaturgo. Militante da luta contra a discriminação racial e pela valorização da cultura negra. É responsável pela criação do Teatro Experimental do Negro, que atua no Rio de Janeiro entre 1944 e 1968 e é a primeira companhia a promover a inclusão do artista afro-descendente no panorama teatral brasileiro.
Sua militância política se inicia na década de 1930, quando integra a Frente Negra Brasileira, em São Paulo. Participa, anos depois, da organização do 1º Congresso Afro-Campineiro, com o objetivo de discutir formas de resistência à discriminação racial. No início da década de 1940, em viagem ao Peru, assiste ao espetáculo O Imperador Jones, de Eugene O'Neill, no qual o personagem central é interpretado por um ator branco tingido de negro. Refletindo a partir dessa situação, comum no teatro brasileiro de então, propõe-se a criar um teatro que valorize os artistas negros.
Permanece em Buenos Aires por um ano, estudando junto ao Teatro Del Pueblo. Em 1941, quando volta ao Brasil, é preso por um crime de resistência, anterior à sua viagem. Detido na penitenciária do Carandiru, funda o Teatro do Sentenciado, organizando um grupo de presos que escrevem e encenam seus próprios textos.
Em 1944, no Rio de Janeiro, com o apoio de uma série de artistas e intelectuais brasileiros, inaugura o Teatro Experimental do Negro - TEN, com a proposta de trabalhar pela valorização social do negro através da cultura e da arte. No primeiro ano de funcionamento, o TEN promove um curso de interpretação teatral, ministrado por Abdias, além de aulas de alfabetização e oficinas de iniciação à cultura geral, objetivando a formação de artistas e colaboradores. Em 1945, Abdias dirige o espetáculo de estréia do grupo: O Imperador Jones, de Eugene O'Neill. No ano seguinte, participa como ator de duas outras montagens de O'Neill produzidas pelo grupo: Todos os Filhos de Deus Têm Asas e O Moleque Sonhador. Ainda em 1946, comemorando dois anos de fundação do TEN, protagoniza trecho do espetáculo Othello, de William Shakespeare, com a atriz
Cacilda Becker.
Em seguida, o grupo passa a encenar uma série de novas peças da dramaturgia brasileira, focalizando questões de relevância para a cultura negra. Em 1947, Abdias dirige e atua na primeira peça escrita especialmente para o TEN: O Filho Pródigo, de Lúcio Cardoso, que aborda a questão do negro na forma de uma parábola. No ano seguinte, dirige e atua em Aruanda, de Joaquim Ribeiro, colocando pela primeira vez no centro da representação elementos da religiosidade afro-brasileira. Em 1949, monta Filhos de Santo, de José de Morais Pinho.
Em 1952, encena uma peça de autoria própria: Rapsódia Negra, na qual se apropria da tradição do teatro de revista. Em 1957, participa como ator da montagem de seu segundo texto dramatúrgico,
Sortilégio, fábula moral que fala do preconceito de raça, partindo de uma situação vivida pelo protagonista, a direção é de Léo Jusi. Anos mais tarde, Abdias escreve uma segunda versão dessa peça, a partir de uma estadia de um ano na Nigéria, mesclando a ela aspectos da cultura africana.
Entre 1948 e 1951, Abdias dirige o jornal Quilombo, órgão de divulgação do grupo, que publica também notícias de outras entidades do movimento negro. Em 1949, realiza a Conferência Nacional do Negro, e, em 1950, o 1º Congresso do Negro Brasileiro. Em 1961, publica o livro Dramas para Negros e Prólogos para Brancos, compêndio com peças nacionais que tratam da cultura negra, entre elas as montadas pelo TEN.
Em 1968, devido à perseguição política, Abdias abandona o país, num exílio que dura até 1981. Com a dissolução do Teatro Experimental do Negro, Abdias deixa de atuar e dirigir para o teatro, e sua militância ganha novas formas. Fora do Brasil, atua como conferencista e professor universitário. Publica uma série de livros denunciando a discriminação racial. Dedica-se à pintura, pesquisando visualidades relacionadas à cultura religiosa afro-brasileira. De volta ao país, investe na carreira política. Assume cargos de Deputado Federal e Senador da República pelo PDT, sempre reivindicando um lugar para a cultura negra na sociedade.