terça-feira, 16 de junho de 2009

Nascimento, Abdias do (1914)

Abdias do Nascimento (Franca SP 1914). Ator, diretor e dramaturgo. Militante da luta contra a discriminação racial e pela valorização da cultura negra. É responsável pela criação do Teatro Experimental do Negro, que atua no Rio de Janeiro entre 1944 e 1968 e é a primeira companhia a promover a inclusão do artista afro-descendente no panorama teatral brasileiro.
Sua militância política se inicia na década de 1930, quando integra a Frente Negra Brasileira, em São Paulo. Participa, anos depois, da organização do 1º Congresso Afro-Campineiro, com o objetivo de discutir formas de resistência à discriminação racial. No início da década de 1940, em viagem ao Peru, assiste ao espetáculo O Imperador Jones, de Eugene O'Neill, no qual o personagem central é interpretado por um ator branco tingido de negro. Refletindo a partir dessa situação, comum no teatro brasileiro de então, propõe-se a criar um teatro que valorize os artistas negros.
Permanece em Buenos Aires por um ano, estudando junto ao Teatro Del Pueblo. Em 1941, quando volta ao Brasil, é preso por um crime de resistência, anterior à sua viagem. Detido na penitenciária do Carandiru, funda o Teatro do Sentenciado, organizando um grupo de presos que escrevem e encenam seus próprios textos.
Em 1944, no Rio de Janeiro, com o apoio de uma série de artistas e intelectuais brasileiros, inaugura o Teatro Experimental do Negro - TEN, com a proposta de trabalhar pela valorização social do negro através da cultura e da arte. No primeiro ano de funcionamento, o TEN promove um curso de interpretação teatral, ministrado por Abdias, além de aulas de alfabetização e oficinas de iniciação à cultura geral, objetivando a formação de artistas e colaboradores. Em 1945, Abdias dirige o espetáculo de estréia do grupo: O Imperador Jones, de Eugene O'Neill. No ano seguinte, participa como ator de duas outras montagens de O'Neill produzidas pelo grupo: Todos os Filhos de Deus Têm Asas e O Moleque Sonhador. Ainda em 1946, comemorando dois anos de fundação do TEN, protagoniza trecho do espetáculo Othello, de William Shakespeare, com a atriz
Cacilda Becker.
Em seguida, o grupo passa a encenar uma série de novas peças da dramaturgia brasileira, focalizando questões de relevância para a cultura negra. Em 1947, Abdias dirige e atua na primeira peça escrita especialmente para o TEN: O Filho Pródigo, de Lúcio Cardoso, que aborda a questão do negro na forma de uma parábola. No ano seguinte, dirige e atua em Aruanda, de Joaquim Ribeiro, colocando pela primeira vez no centro da representação elementos da religiosidade afro-brasileira. Em 1949, monta Filhos de Santo, de José de Morais Pinho.
Em 1952, encena uma peça de autoria própria: Rapsódia Negra, na qual se apropria da tradição do teatro de revista. Em 1957, participa como ator da montagem de seu segundo texto dramatúrgico,
Sortilégio, fábula moral que fala do preconceito de raça, partindo de uma situação vivida pelo protagonista, a direção é de Léo Jusi. Anos mais tarde, Abdias escreve uma segunda versão dessa peça, a partir de uma estadia de um ano na Nigéria, mesclando a ela aspectos da cultura africana.
Entre 1948 e 1951, Abdias dirige o jornal Quilombo, órgão de divulgação do grupo, que publica também notícias de outras entidades do movimento negro. Em 1949, realiza a Conferência Nacional do Negro, e, em 1950, o 1º Congresso do Negro Brasileiro. Em 1961, publica o livro Dramas para Negros e Prólogos para Brancos, compêndio com peças nacionais que tratam da cultura negra, entre elas as montadas pelo TEN.
Em 1968, devido à perseguição política, Abdias abandona o país, num exílio que dura até 1981. Com a dissolução do Teatro Experimental do Negro, Abdias deixa de atuar e dirigir para o teatro, e sua militância ganha novas formas. Fora do Brasil, atua como conferencista e professor universitário. Publica uma série de livros denunciando a discriminação racial. Dedica-se à pintura, pesquisando visualidades relacionadas à cultura religiosa afro-brasileira. De volta ao país, investe na carreira política. Assume cargos de Deputado Federal e Senador da República pelo PDT, sempre reivindicando um lugar para a cultura negra na sociedade.

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