Ninguém é branco.
Ninguém é negro.
A cor da pele é apenas um variação de tom.
Mas se alguns dizem ser branco sem problemas,
Eu sou negro.
Não quero qualquer outro nome.
Não aceito a vergonha que me colocam
Pela magnitude do meu pigmento.
Por ser negro excluem que possa ser alemão, chinês ou francês?
Não posso ser?
Mas se nasci em Londres, sou inglês.
Fui colocado em oposição ao branco.
O branco puro e casto
O negro lúgubre e mofino
O meu corpo é negro.
Posso escrever o que vai por dentro
Para ser esquecido em qualquer sítio e sobretudo.
Que me importaria isso?
Pelo contrário.
Não sei para que escrevo nem para quem.
Não estou para ser visto, medido e avaliado.
Quero lá saber de tudo isso.
Não és poesia.
Não és amor.
Não és paixão.
Não és humano.
Não podes ser.
Não vais conseguir nada.
És culpado.
Não és nada.
Não fizeste nada.
Não construíste nada.
Não inventaste nada.
E a minha cultura que foi destruída?
Fui esquecido, fui dominado
E a minha voz que foi silenciada?
Ainda não a consegui encontrar de novo.
E a minha arte que foi roubada?
Já não volta a ser minha.
E as minhas raízes que foram usurpadas?
Não sei quem sou.
Talvez venha dali.Talvez.
O branco inventou a palavra negro, a palavra escravo
No nosso coração gerou ódio, gerou cobiça, gerou inveja
Estragou o nosso paraíso por o querer comprar
E os miúdos pedem nas ruas dinheiro para uma coca-cola
E as cidades são dormitórios ao alto sem água nem luz
A nossa escola não tem porta, nem cadeiras, nem giz
Mas o branco quer vender canetas marcadoras
Em cada poste dependurou-se um homem branco e negro
Abriram-se crianças negras e brancas em espetos de pau
Alvejaram-se brancos e negros que procuravam fugir
Lado a lado como irmãos.
Já não se pode falar de racismo.
Isso não existe.
Ninguém é racista.
Ninguém.
Mas eu sou negro.
O meu corpo é negro.
Sou sim.
Porque branco não posso ser.
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